Já atrasado para a labuta diária, fui interpelado por alguem que me contagiou de forma inesperada, enquanto tirava as medidas (com alguma dificuldade) ao lugar que se me havia preseteado augurando um dia auspicioso. A personagem que se acercou vestia a pele da normalidade anónima da qual não conseguia suspeitar, encontrando-se revestida pela liga metálica do Saab que conduzia com alguma ostentação. Ao baixar o vidro algo obscurecido que iludia a sua tez clara proferiu as seguintes palavras:
- "Ainda tem dois metros até ao pilar"
Prontifiquei-me a agradecer de imediato na minha candura, perplexo e expectante... Contudo, um sorriso final de rogozijo por parte da personagem desvendou o véu mesquinho que potenciava este encontro ocasional. A minha inoperância convencionada e espelhada no agradecimento promovia uma busca distinta das razões, do porquê de tal comentário redundando na raiva reactiva mas contida, confortada agora pela minha falta de
timing. Acabei por desistir de tal demanda em prol da confiança que eu por fim depositei em tal personagem. O peso da humanidade abalou-me nessa manhã e tornei-me menos (ou talvez mais, ou demasiadamente) humano. De manhã foi um insecto...quem sabe se à tarde seria um anjo...